quinta-feira, 24 de setembro de 2009

Um golpe contra as forças populares

O Golpe em Honduras é um forte ataque autoritário para deter as políticas de caráter popular. No dia 28 de junho de 2009, em pleno século XXI, o presidente Manuel Zelaya foi detido pelo Exército em sua própria casa e expulso para a Costa Rica. Tratava-se de um golpe de Estado, dirigido e orquestrado por Roberto Micheletti que assumiu imediatamente a presidência do país. Seus apoiadores, que garantiram o êxito da ação golpista, foram empresários, entre os quais se pode destacar o presidente da Associação Nacional de Indústrias (Andi), Adolfo Facussé, o presidente do Conselho Hondurenho da Empresa Privada (Cohep), Amilcar Bulnes. Para completar o golpe foi assegurado por dois generais, que tiveram papel-chave no golpe: Romeo Vasquez e Javier Suazo.
Antes de Honduras, o hemisfério tem a lembrança de uma atividade mais recente da ação golpista de militares aliados a empresários, autoritários e conservadores. No ano de 2002, Efraín Vasquez foi o cabeça de um golpe contra Hugo Chávez. Felizmente, essa iniciativa foi derrotada na Venezuela, mas vale lembrar que Pedro Carmona era dirigente de uma associação empresarial semelhante à Cohep de Honduras. Opção por golpe não é, portanto, algo que está abertamente descartado pelas classes dominantes. E, de forma geral, notaremos empresários neoliberais e conservadores em aliança com militares para manobrarem essa terrível ação autoritária.

O que está por detrás do golpe é uma diferença política em relação às reformas neoliberais. As diferenças de abertura do país para o setor privado, perda de monopólio, aumento de salários, principalmente do salário mínimo, que colocaram em rota de colisão Micheletti e Zelaya, levaram a um acirramento que acabou culminando nesse tosco golpe de mão. No centro da iniciativa do grupo golpista estava a desculpa de que o presidente Zelaya propusera alteração constitucional que permitira a reeleição. Evidente que o incômodo com a reeleição é uma desculpa, por um lado e por outro: a busca de garantias de que não continuasse nenhum governo com medidas restritivas às desregulamentações neoliberais. Nota-se que havia algum tempo que o presidente eleito assumia políticas mais populares, o que incomodava frontalmente a direita de Honduras.

As diferenças entre os grupos de Zelaya e Micheletti apenas se aprofundaram entre 2006 e 2009. Quando o presidente de Honduras decidiu pelo aumento de 60% no salário mínimo, os empresários foram para a imprensa e para a Corte Suprema do país anunciar que não cumpririam o decreto presidencial. Chamados pelo Ministro do Trabalho de “exploradores gananciosos”, os empresários reagiram. Foi quando Amilcar Bulnes declarou que o aumento salarial era uma irresponsabilidade, pois só traria desemprego. Eis uma frase muito comum, em escala mundial, do conjunto dos empresários e, frequentemente, ouvida pelos trabalhadores.

Já se pode falar sim que em seguida ao golpe já há prevista a instauração de um regime autoritário. Toque de recolher, desrespeito total às embaixadas, prisão e tortura de apoiadores de Zelaya, ação direta da polícia e do exército contra manifestações, proibições de toda a ordem em desrespeito às convenções internacionais e aos Direitos Humanos. Mas tudo isso enfrentou e enfrenta uma reação popular que foi subestimada pelos golpistas e com um apoio internacional geral. Oficialmente, todos os países condenaram o golpe e apoiam o retorno do presidente eleito. Esses são elementos fundamentais que põem a camarilha golpista isolada em terreno nacional e internacional.

Isso não quer dizer que os golpistas possam ser tranquilamente derrotados. O processo eleitoral de Honduras, marcado para 29 de novembro, oficialmente já se iniciou. O quadro atual não é bom, pois Zelaya, que vem assumindo medidas populares, é minoria em seu partido e não pode concorrer às eleições. Pode ser, sim, que o golpe, ainda que com um recuo próximo, alcance os seus objetivos de impedir a continuidade de um governo que confronte, de alguma forma, as medidas do pacto neoliberal que tem no comando os EUA. Afinal, quem indicou Oscar Arias para mediar os conflitos e intermediar um processo de negociação pelo fim do golpe foi a ala mais à direita do governo Obama. Hillary Clinton estava à frente desse processo com o objetivo, é claro, de assegurar que, assim como ocorreu com a Costa Rica, os tratados de livre comércio com os Estados Unidos se fortaleçam também em Honduras.

Portanto, a situação não é fácil. O retorno à Tegucigalpa do presidente Manuel Zelaya pode, sim, tanto elevar o conflito entre a maioria do povo e a oligarquia golpista quanto trazer um fim melancólico ao regime autoritário atual. O futuro desse desfecho, que pese ainda não estar apontado com todas as tintas, pode acabar com um prolongamento do modelo atual, mas agora por meio do próprio processo eleitoral. Trata-se, portanto, de organizar uma forte campanha solidária e ações que ajudem para assegurar e manter um curso popular em Honduras. O que está em jogo são os interesses políticos e econômicos. É necessário que todos saibam que além do “Estado Democrático de Direito” que foi frontalmente ferido pelo golpe, o regime autoritário de curto prazo tem como interesse a implementação política de um governo neoliberal conservador. A disputa não é somente entre dois grupos hondurenhos, mas há um conflito de interesse de classe dos mais profundos. Tal conflito se refere ao modelo de desenvolvimento e às políticas econômicas e sociais que estarão em curso no país no próximo período. Reforçar os movimentos de apoio a Zelaya, contra o golpe e pelo fim imediato do regime autoritário, além de um compromisso democrático, é uma ação fundamental para o acúmulo de forças dos setores populares no nível internacional.

Textos consultados:
Honduras: antes e depois do golpe – Emir Sader
Honduras: primeira crise latinoamericana na era Obama – Emir Sader
O princípio do fim? – Atilio A. Boron
Do golpe em Honduras ao golpe na Venezuela – Nikolas Kozloffé

3 comentários:

Vitor Castro disse...

Postei o início do texto no Blog do VQ (Valença em Questão). Só pra avisar.

www.blogdovq.blogspot.com

abração
Vitor

Ferreirinha disse...

TODOS OS GOLPES SE PARECEM:

em 1964 no BRASIL os civis/militares q derrubaram jango falavam as mesmas coisas q as forças populares estavam a tomar o poder e o país estava proximo da comunização e coisa e tal... e no chile,argentina,uruguay e toda amarica latina se deu esta bravatas ea mesma situação esta se dando a m ate na era LULA a oposição faz força pra o derrubarem

Unknown disse...

Somente acho que o apoio a ser dado é ao povo hondurenho contra o golpe, e não a Zelaya.
Acho o mesmo de Hugo Chaves. Creio que devemos ter clareza de que são governos, no méximo, nacionalistas.
É perigoso não deixar isso claro as esquerdas socialistas. Não se deve misturar alhos com bugalhos.
Um abraço!