terça-feira, 29 de setembro de 2009

Não há nada a comemorar quando alguém morre com um tiro na cabeça


Sérgio Ferreira, de 24 anos, desempregado, morreu com um tiro na cabeça, quando fazia uma refém em um assalto em Vila Isabel. Com uma granada em mãos, conseguiu aterrorizar a pessoa que prendia e as pessoas que assistiam. Com um tiro na cabeça, ele foi motivo de aplausos de várias pessoas que passavam ou acompanhavam o que estava ocorrendo.

Tudo isso é muito lamentável, pois, não se pensa nas condições da vida para se chegar nessa situação. Não interessa que as condições objetivas impostas por uma realidade de desemprego, criminalização da pobreza, violência, justifique ou não atos como os cometidos por esse jovem. O que importa é que se precisa pensar nas condições que são motivadoras de um ato absolutamente infeliz, desde o seu início até o seu desfecho.

Não vou e não posso entrar aqui no mérito sobre a ação da polícia. Não há informações para um posicionamento nesse sentido. Não sei como foram as negociações, o que foi tentando, o que ele exigia, o que a polícia oferecia, quem negociava, quais eram os limites, qual a situação real da vítima que estava com ele, etc. Só sei que, ao final, soma-se duas vítimas: a que felizmente conseguiu sair ilesa e a que foi tombada.

Uma coisa me animou: a posição do marido da vítima Cristiana Garrido, que felizmente está viva. Jose Garrido demonstrou exatamente a mesma visão que apresento agora nesse pequeno texto. É lamentável, no entanto, que a maioria da sociedade tenha assumido uma visão tão reacionária sobre a realidade e não enxergue que o modelo de Estado seja o principal responsável pelo que vem ocorrendo. Na realidade atual, na qual o lucro se coloca majoritariamente acima da vida e as pessoas são tratadas pelo seu poder de compra, não se pode condenar com tanta facilidade.

Seria entusiasmante se fatos como esses deixassem de ocorrer; também traria muita alegria ver a ação da polícia sem vítimas. Mas para isso muito tem que ser alterado na sociedade na qual vivemos. Precisa-se, mais que armamento, uma política de segurança que não seja privatizada (como essa que tem ai) e que se sustente na lógica da vida. Essa política sustentada no confronto estimula uma rede de violência já muito intensa. As péssimas condições de vida pela qual passa grande parte do povo, a inexistência de políticas públicas nos setores mais pobres da sociedade, a visão equivocada que busca opor favela ao restante da cidade, a concentração de aparelhos culturais, de saúde, educação, nas áreas mais ricas são elementos que estimulam essa barbárie que vimos.

É sim uma barbaridade total ver pessoas aplaudindo a morte de outra pessoa, como em uma arena, mesmo que para salvar outra importante vida. Gostaria de ver outro quadro. Mas sem mudanças profundas isso não é possível. Não é possível a manutenção de conflitos que todos sabem que ocorrem, não é possível territórios controlados por grupos criminosos, não é possível que negro, pobre e favelado sejam os que paguem cotidianamente pelas condições criadas em nome do lucro. O fundamentalismo e a irracionalidade dos que colocam o lucro acima da vida, só podem fabricar, cada vez mais, relações sociais pautadas pela barbárie.

A sociedade civil precisa se movimentar; necessita exigir do Estado que cumpra o papel dirigente de respeito e melhoria da vida, em todos os seus sentidos e significados. E isso só será possível se a grande maioria em oposição ao capital - trabalhadores empregados e desempregados; do campo e da cidade; do serviço público e da iniciativa privada; pequenos e médios empresários; profissionais liberais ou autônomos; trabalhadores com contratos precarizados ou com carteira assinada – se movimentar e assumir as rédeas dos rumos da sociedade. Mudar a realidade é possível; é uma necessidade; vamos juntos construir nossa própria história.

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